Por
Deltan Dallagnol – Gazeta do Povo

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| Foto: Bigstock

Você já preparou seus planos, resoluções ou objetivos de ano novo? Talvez queira ser mais saudável, fazer exercícios, comer melhor, reunir economias ou fazer trabalho voluntário? Será que faz sentido estabelecer metas no ano novo? E como tirá-las do papel?

Marcos temporais como um novo dia, semana, mês ou ano, um aniversário ou um novo trabalho são uma boa oportunidade para fazermos nas nossas vidas mudanças que queremos há tempo, mas procrastinamos. Falta aquele empurrãozinho, aquele momento propício para romper com o passado e construir um futuro diferente.

Pesquisadores apontam que o início de ciclos são marcos temporais que geram um efeito do novo começo, o “fresh start effect”. É como se recebêssemos mais uma página do livro da nossa história para começar a escrever um novo capítulo. Temos uma motivação renovada para iniciar novos planos e estabelecer objetivos.

O ano novo é o rito de passagem por excelência ao qual atribuímos um significado compartilhado de sonhar e traçar planos e metas. Isso, mais do que uma tradição de ano novo, é uma excelente oportunidade para mover a vida na direção dos nossos propósitos.

Marcos temporais como um novo dia, semana, mês ou ano, um aniversário ou um novo trabalho são uma boa oportunidade para fazermos nas nossas vidas mudanças que queremos há tempo, mas procrastinamos

Muita gente embarca na tradição de formular objetivos do ano novo – nos Estados Unidos, perto de metade dos participantes de pesquisas repetidas ao longo de três anos. As metas mais frequentes se relacionam com saúde física e mental, perda de peso, mudanças de hábitos alimentares e crescimento pessoal.

Contudo, um outro estudo mostrou que dentre os 41% dos americanos que, naquela pesquisa, estabeleceram metas de ano novo, apenas 9% se sentiram bem-sucedidos em alcançá-las, e a taxa é baixa assim mesmo quando metade das pessoas se sentem confiantes de que as alcançarão.

No mesmo sentido, uma pesquisa feita pelo YouGov com cerca de 1.200 americanos em 2018 apontou que apenas 12% cumpriram todas ou a maioria de suas resoluções. Levantamento similar feito em 2019 indicou que 7% cumpriram todas as resoluções e 19% cumpriram algumas delas.

O cumprimento dos compromissos de ano novo cai bastante rápido. Segundo um estudo de Norcross e Vangarelli, que acompanhou 200 pessoas, só 55% mantinham suas resoluções depois de um mês, 43% depois de três meses e apenas 19% após dois anos.

Dentre as razões do fracasso, estão a escolha de objetivos poucos realistas ou de muitos objetivos, não registrar metas e o progresso, abandonar tudo diante das primeiras escorregadas e não considerar as rotinas e as exigências do dia a dia.

Então, como aproveitar este momento para fazer mudanças com sucesso? Não há receita única, mas aqui vão as cinco melhores sugestões que encontrei, tiradas de uma pesquisa ampla sobre resoluções de ano novo publicada na revista Plos One e do livro Get it Done de Ayelet Fishbach.

Primeiro, estabeleça objetivos orientados a “fazer algo”, como fazer exercícios três vezes por semana, em vez de “não fazer algo”, como deixar de ser sedentário. A taxa de sucesso em fazer algo é maior do que em evitar um comportamento – na pesquisa divulgada pela Plos One, a diferença foi de cerca de 12%.

Segundo, escolha objetivos fortes ou apaixonantes, que tenham a ver com seu propósito de vida, e faça eles específicos. Um método que pode ser usado é o SMART, segundo o qual os objetivos devem ser específicos (specific), mensuráveis (mensurable), atingíveis (achievable), relevantes (relevant), e com prazo definido (time-bound).

Terceiro, encontre diversão nas suas metas. Pedale ou corra ouvindo sua música ou podcast favorito ou programe uma recompensa a você mesmo sempre que realizar seu objetivo.

Quarto, e muito importante, convide alguém para acompanhar sua jornada rumo aos objetivos e marque um encontro periódico com essa pessoa para compartilhar como está indo o processo.

Por fim, cuidado com o maior obstáculo: o meio da jornada. Nele a motivação é menor do que no começo, quando largamos cheios de energia, ou perto da linha de chegada, quando temos uma tendência de dar nosso melhor – é o “goal gradient effect”.

Por isso, não estabeleça apenas um objetivo final, mas objetivos intermediários, mensais ou semanais, usando em seu favor marcos temporais ao longo da jornada que deem uma sensação ou motivação de novo começo. E não tenha vergonha de recaídas, mas seja resiliente e recomece quantas vezes for preciso.

Eu já escolhi meus objetivos para o ano novo. E você, que tal avançar para aquela mudança de vida que faz tempo que está programando? Como disse Fernando Pessoa, “feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era e transforme-se em quem é.” Esta é a hora.

Eu desejo a você que acompanha minhas colunas um feliz ano novo e, mais do que isso, um ano novo em que você possa crescer e alcançar seus objetivos.

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