Manipulação da questão indígena para fins políticos

Desnutrição entre os Yanomami

Por
Cristina Graeml – Gazeta do Povo

RORAIMA, BRAZIL – JULY 01: (EDITORS NOTE: image contains nudity) Yanomami indigenous look on as arriving to receive health care during the Yanomami / Raposa Serra do Sol Mission amidst at the coronavirus (COVID-19) pandemic at the 4 Special Border Platoon in the city of Alto Alegre on July 01, 2020 in Roraima, Brazil. The mission involves several ministries and seeks to intensify indigenous health care and Covid-19 prevention. Brazil has over 1,402,000 confirmed positive of Coronavirus cases, with 147 among Yanomamis, and 59,594 deaths across the country and 4 among Yanomamis. (Photo by Andressa Anholete / Getty Images)


Desnutrição entre os Yanomami, embora chocante e lamentável, não é novidade no Brasil, como quer fazer parecer o atual governo, sempre na tentativa de jogar a culpa de todos os problemas do país sobre o ex-presidente Bolsonaro, que esteve no poder por apenas 4 anos.

O alarde feito no último sábado (21) pelo presidente Lula, após visitar a Casa de Saúde Yanomami em Roraima, e a exibição na imprensa de fotos de crianças indígenas desnutridas, descontextualiza os fatos e tira o foco da realidade cultural por trás dessa tragédia.

Quem conhece verdeiramente a rotina dos índios afirma que a fome e a desnutrição resultam de um conjunto de fatores presentes há décadas na rotina dos yanomami, a começar por aspectos culturais, que poucos ousam combater.

Desnutrição dos Yanomami
Entrevistei nesta sexta-feira (27) o enfermeiro paraibano Khylvio Alves Valões, que trabalha com índios em Roraima desde que o Ministério da Saúde criou a Secretaria Especial da Saúde Indígena (SESAI), em 2010, no primeiro governo Dilma.

Durante sete anos ele frequentou as aldeias yanomami e cita, primeiro, a questão cultural, como responsável pela desnutrição histórica.

“Existe um contexto histórico por trás da questão da desnutrição do povo Yanomami… Historicamente você coloca o alimento em uma aldeia, vão comer primeiro os homens, os guerreiros, que têm que estar fortes e nutridos para defender a aldeia; depois, as mulheres e, só então, as crianças. Os idosos, caso sobre.”

Khylvio Alves Valões, enfermeiro de saúde indígena

Khylvio também lembra da chegada de garimpeiros na região, há mais de dez anos. Foi quando os índios começaram a ter acesso a armas de fogo clandestinas, fornecidas pelos garimpeiros em troca de liberação da mineração em suas terras.

Dali para a frente os conflitos entre as tribos se agravaram, a caça começou a ficar mais difícil, bem como o cultivo das terras e o acesso de equipes médicas às tribos. Aliada à questão cultural, tudo isso pode ser colocado na conta da desnutrição dos Yanomami.

Foco na solução
Ao longo dos últimos quatro anos, após visita do presidente Bolsonaro a líderes indígenas, as aldeias passaram a receber cestas básicas com regularidade.

Na visão de Khylvio, se a desnutrição continua não é por falta de comida necessariamente, mas de profissionais para ajudar os índios a preparar a comida, que não faz parte de sua base de alimentação. E faltam nutricionaistas para orientar e acompanhar os desnutridos.

Exibir fotos de crianças esqueléticas para a imprensa, insinuando que, por terem pouca idade, são fruto de erros políticos recentes, não é apenas mentira. É falta de vontade de entender o problema e focar na solução. A desnutrição dos yanomami é real. E narrativa política não enche barriga.

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