Nomeação de Marcio Pochmann para a direção do IBGE repete no governo petista caso ocorrido na gestão Bolsonaro em que o então presidente quis nomear um amigo para a direção da PF

Por Felipe Moura Brasil – Jornal Estadão

Simone Tebet dá um verniz de “frente ampla” a um governo cada vez mais petista, assim como Sergio Moro dava um verniz de combate à corrupção a um governo que cada vez mais sabotava esse combate.

Quando Jair Bolsonaro atropelou o então ministro da Justiça e trocou o diretor da Polícia Federal por um amigo de família, Alexandre Ramagem, após manifestar incômodo com investigações sobre filhos e aliados, Moro deixou o governo, porque não quis responder pelos eventuais atos de um indicado político naquele contexto.

Quando Lula atropelou a ministra do Planejamento e trocou o presidente do IBGE por um ideólogo do PT, Marcio Pochmann, que atribui a crise econômica decorrente dos governos e esquemas do partido ao “golpe de 2016″, ao “receituário neoliberal” e à Lava Jato, Tebet ficou na pasta, alegando que não se incomoda em ser a “segunda voz” da dupla sertaneja com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e que “a mídia não me pauta, companheiros não me pautam, pessoas que me acompanharam na campanha não me pautam”.

A ministra Simone Tebet acabou aceitando a indicação de Marcio Pochman ao IBGE
A ministra Simone Tebet acabou aceitando a indicação de Marcio Pochman ao IBGE  Foto: Sergio Moreira / EFE

Moro, que já era odiado pela esquerda por ter condenado Lula em primeira instância, acabou sendo fritado também pelo bolsonarismo, com o qual, em 2022, veio a retomar aliança contra a volta do PT.

Tebet, que já é rejeitada por antipetistas pelo apoio a Lula no segundo turno, recompensado com cargo em seu governo, não quis ser fritada também pelo lulismo, com o qual mantém aliança em nome do combate à fome, à desigualdade e à extrema-direita.

As vozes independentes, hoje raras no jornalismo, foram quase extintas na política brasileira, onde parasitar Bolsonaro e Lula, relevando seus desmandos e apadrinhados negacionistas, tornou-se o único horizonte de sobrevivência, com perspectiva, mesmo que remota, de poder.

Bolsonaro premiava na máquina pública quem pudesse contribuir com blindagens desejadas e atacar a imprensa, enquanto Lula premia quem normalizou sua relação imobiliária com empreiteiras do petrolão e pode punir seus desafetos. Já se prefere, porém, ser um Geraldo Alckmin de Haddad, ou um sub-Tarcísio de Freitas, a confrontar o líder populista de seu campo, cada qual com um exército de Eduardos Pazuello, pautado pelo lema “um manda, outro obedece”.

O sintoma cultural é preocupante, porque os políticos nada mais são que um reflexo caricato do povo. E as sociedades que não têm a independência como um valor, mas, sim, como uma ameaça, são as mais suscetíveis a condescender com as variadas formas de autoritarismo, impostas sob qualquer verniz.

Loading

By valeon