História por Notas & Informações  • Jornal Estadão

10/10/2007 – CAMPO MOURÃO – PARANÁ – EXPEDIÇÃO CAMINHOS DO CAMPO – ÚLTIMA SEMANA DA PRIMEIRA ETAPA DA EXPEDIÇÃO CAMINHOS DO CAMPO NA REGIÃO NOROENSTE E REGIÃO CENTRAL DO PARANÁ – PLATIO ESTÁ ATRASADO DEVIDO A FALTA DE CHUVAS NA REGIÃO – NA FOTO ÁREA DE RESERVA LEGAL – FOTO ALBARI ROSA / GAZETA DO POVO

Em quatro anos o mundo foi surpreendido por uma pandemia, por duas guerras de impacto global e por uma irrupção disruptiva da Inteligência Artificial. Se é difícil prever como será o mundo em quatro anos, imagine em 40 anos? No entanto, há duas megatendências inexoráveis: o planeta está esquentando e os humanos vivem mais e têm menos filhos. A consequência é uma humanidade envelhecida, que luta para substituir sua energia fóssil por energias verdes.

O impacto destas transformações foi sopesado na mais recente projeção de cenários de longo prazo da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), um fórum das democracias ricas.

O cenário-base projeta a continuação da rota atual, sem maiores mudanças políticas e institucionais: mais do mesmo. Neste caso, para as nações da OCDE e do Grupo dos 20 (G-20) combinadas (ou 83% do PIB global), o declínio no crescimento da força de trabalho e da produtividade desacelerará o crescimento econômico, dos atuais 3% ao ano para 1,7% em 2060. Na maior parte das economias emergentes do G-20, o crescimento do PIB per capita será mais lento. Há exceções, como Brasil, Argentina e África do Sul, só porque seu desempenho atual é tão medíocre que é difícil piorar. Mas os padrões de vida destes países se aproximarão pouco do padrão de vida dos países desenvolvidos, menos que os da China, da Índia ou da Indonésia.

Até 2060, a pressão fiscal deve crescer no mundo cerca de 6 pontos porcentuais do PIB. Essa seria a quantia que um país médio precisaria aumentar em impostos para conter a escalada do endividamento público.

Se o envelhecimento populacional já é deprimente, as más notícias não param aí. O cenário-base não contabiliza a transição energética. Pela primeira vez, a OCDE estimou os custos dessa transição. Nesse cenário, todos os países acelerariam a descarbonização, eliminando o carvão e reduzindo o petróleo e o gás a 15% da matriz energética em 2050. A boa notícia é que isso alcançaria a meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a 1,5°C. A má notícia são os estragos sociais: mais fome, mortes e, consequentemente, violência.

De acordo com a OCDE, os custos cumulativos da mitigação consumiriam 8% do PIB global até 2050. Porém as perdas são desiguais. Os países ricos ficarão 3,7% menos ricos e os países pobres ficarão 11% mais pobres. O mundo já será mais velho; a transição energética o tornará mais pobre e desigual.

Não são tendências imutáveis. Projeções não são futurologia nem precisam ser um destino, se tomadas como uma advertência e um convite à ação política e à criatividade.

Inovações tecnológicas, seja na biotecnologia, seja na Inteligência Artificial ou na automação industrial, podem impulsionar a produtividade. Reformas que melhorem a eficiência dos sistemas de saúde e de previdência podem aliviar pressões fiscais. Para as economias emergentes do Brics, a OCDE projeta que melhorias na governança, no desempenho educacional e na abertura comercial têm o potencial de elevar seu padrão de vida de 30% a 50% em relação ao cenário-base.

A taxação do carbono pode gerar receitas adicionais, que podem ser empregadas para aliviar a carga tributária sobre o trabalho. Parte dessas receitas deveria ser investida em pesquisa e desenvolvimento de energias tão baratas e eficientes quanto as fósseis.

Por ora, é preciso lidar com a realidade como ela é. Com as tecnologias atuais, a aceleração da descarbonização impõe um peso ao bem-estar social e, inversamente, a elevação do bem-estar social impõe um freio à descarbonização.

O mundo precisa se empenhar em cálculos de custo-benefício para fazer escolhas racionais entre a preservação ambiental e o progresso social. E os países pobres precisam negociar com os países ricos transferências de recursos e/ou prazos dilatados para uma transição energética socialmente sustentável.

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By valeon