História de editora3 • IstoÉ Dinheiro

Como em todo orçamento onde sobram gastos e falta dinheiro, o governo federal, dado o cobertor cada dia mais curto para cobrir as despesas, está tentando se virar como pode. E a ginástica vem exigindo medidas que provocam resistências e pressões bem pesadas. No caso da desoneração da folha, por exemplo. Para não sair derrotado, ele teve de buscar uma trilha mais, digamos, digerível que não incomode tanto a parcela do PIB beneficiada até aqui pela medida. Mas não é só. Cada setor vem lutando para garantir privilégios e é aí que mora o problema. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, projetou uma perda de R$ 100 bilhões em arrecadação nos próximos cinco anos caso o tal Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse) seja mantido e os representantes da atividade, em contrapartida, alegam que sem esse incentivo muitos vão fechar as portas. São cabos de força desse tipo que surgem pela frente. Onde a equipe econômica vai buscar algum recurso para sair do sufoco surge a gritaria. Na ponta do lápis, o déficit primário bateu em assombrosos R$ 230,5 bilhões, o pior resultado desde o início da série histórica iniciada em 1997 – com exceção de 2020, quando a pandemia teve início. Haddad alega que está se pagando agora o rombo indecente da gestão anterior de Jair Bolsonaro. É fato, mas não acomoda a realidade preocupante.

Nem se justifica por si só, dado que o presidente Lula e sua entourage de aliados seguem falando em gastança alegando a necessidade de investimentos. O resultado concreto foi bem pior do que os R$ 100 bilhões prometidos pelo ministro no início do ano anterior e deixa ainda mais remota a meta oficial de se alcançar um déficit zero. As contas públicas, decerto, não andam no seu melhor momento. As pedaladas passadas do senhor Bolsonaro, que foram regularizadas pelo próprio parlamento, moldaram hábitos difíceis de serem suspensos. Estados e municípios que lá atrás tiveram perdas com a redução do ICMS agora correm atrás de recomposição, forçando ainda mais os números. Mesmo com o veto de Lula a emendas parlamentares, da ordem de R$ 5,6 bilhões (que deve ser derrubado), conta pouco na soma geral. Será um desafio hercúleo colocar o movimento contábil no azul, dentro de um escopo de meta fiscal razoável. A cada dia o rombo cresce corroendo expectativas. O PIB maior do que o esperado em 2023 funcionou como alento. A taxação das compras internacionais até US$ 50 também pode ajudar, mas é tema sensível na política econômica do governo, porque gera impopularidade política – e justamente em ano de eleição. A decisão mais promissora dos últimos tempos foi a do acordo costurado para possibilitar a regularização do pagamento dos precatórios. A fatura de R$ 93 bilhões (paga na virada de ano) interrompeu uma avalanche de despesa e garantiu recursos na praça para impulsionar o consumo e fazer a roda da economia girar. Mas ainda não é o suficiente. Existem outros pedregulhos no caminho. O déficit previdenciário de servidores atingiu a cifra de R$ 6 trilhões. Companhias aéreas em dificuldades de caixa estão obrigando o governo a montar um socorro da ordem de R$ 7,6 bilhões. A cada dia um pendura novo surge e a má vontade do Congresso para apoiar soluções federais segue constante.

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By valeon