História de Mavi Faria – Capricho

O que a Geração Z pensa sobre trabalho?

O que a Geração Z pensa sobre trabalho?© Freepik/Reprodução

Falar de trabalho e de Geração Z pode ser bem complexo, afinal, polêmicas não faltam de que essa geração tem uma relação difícil com funções profissionais. Mas será que é assim mesmo?

O relatório “Tendências de Gestão de Pessoas”, do Ecossistema Great People & GPTWU, como levantado pela CNN, mostra que, 51,6% das pessoas que já estão no mercado de trabalho tem dificuldade de lidar com as expectativas do mundo corporativo e com as diferenças entre gerações.

Outro exemplo disso é a fala, em janeiro deste ano, da atriz e diretora norte-americana Jodie Foster, de 61 anos, ao dizer que tem dificuldade para entender as atitudes dos mais jovens em relação ao trabalho e que pode ser muito chato trabalhar com as pessoas da Geração Z.

Mas, se as gerações anteriores estão com este tipo de pensamento, como é a visão da própria Geração Z sobre o mercado de trabalho? A nossa galera dá “trabalho”, mesmo? Alguém já perguntou pra eles como se sentem?

Nós conversamos com a Galera CAPRICHO – nossa comunidade de leitores-colaboradores entre 13 e 18 anos – e descobrimos que a galera quer ter um ambiente saudável onde suas habilidades são promovidas e desafiadas, e não toleram ambientes de trabalho onde haja descriminação, abuso, assédio ou que prejudique suas respectivas saúdes mentais.

Emanuele Assereuy, por exemplo, de 17 anos, acredita que a geração z lida não só com carga de trabalho e pressão, mas também com saúde mental de forma diferente já que eles valorizam mais o “equilíbrio entre vida pessoal e profissional”, visão sobre o mercado de trabalho, muito diferente da que o pais tinham.

“Meus pais e pessoas mais velhas parecem valorizar mais a estabilidade e a segurança no emprego, enquanto nossa geração tende a buscar mais flexibilidade, propósito e realização pessoal no trabalho”, pontua.

Por esse pensamento, ela sabe o que não tolera: “É inaceitável um ambiente de trabalho com discriminação, falta de diversidade ou que não valorize o bem-estar dos funcionários. Essencialmente, um ambiente profissional deve ser inclusivo, respeitoso, oferecer oportunidades de crescimento e valorizar a saúde mental de todos os colaboradores”.

Além da carga horária de trabalho, outros pontos como realização pessoal, mobilidade geográfica e habilidades pessoais são lidados com mais cuidado e atenção pela geração z, é o que afirma a Laura Matos, de 15 anos. A própria definição e significado de “trabalho”, para ela, é muito mais sobre contribuição social e algo que os motiva a transformar a sociedade. A Ana Beatriz, de 18 anos, também vê o significado de “trabalho” diferente do que uma pessoa de outra geração possa enxergar, mas também não necessariamente pelo lado positivo.

“Ainda não estou trabalhando, mas não tem como não associar trabalho com algo negativo porque quando todo mundo pensa no trabalho, a gente pensa num desgaste e em quanto tempo as pessoas trabalham até se aposentar”, explica, ao mesmo tempo que, em contrapartida, sabe que um ambiente de trabalho dos sonhos é flexível, onde ela pode ter uma vida social, que não acabe com sua saúde mental.

Mais opções são sinônimo de mais liberdade de escolha?

O avanço da internet e das redes sociais proporcionam a criação e inovação de profissões que representarão o futuro — tecnológico, em boa medida. Sem dúvida, as possibilidades de carreira mudaram muito de gerações passadas até aqui e diversas carreiras foram deixadas no passado, enquanto muitas outras surgiram.

Para Paola Eduarda, ou ‘Lola’, de 17 anos, a Gen Z tem muito mais liberdade na escolha da profissão e, por isso, sua relação com o trabalho é de “buscar autonomia e independência financeira para, no futuro, ter conhecimento e aprendizagem na carreira que escolher seguir”.

Embora o desenvolvimento pessoal e a conquista dos sonhos ser uma prioridade para Lola, ela não acredita que sua geração aproveite essas oportunidades. “Percebo uma grande má vontade da minha geração de não querer trabalhar e ficar só nos celulares, que poderiam ser um instrumento facilitador para buscar mais oportunidades, mas parece que muitos não se interessam e só querem sobreviver do dinheiro dos pais”, argumenta.

Mais possibilidades, para Enzo Araújo, de 16 anos, não necessariamente significa mais liberdade porque ele percebe preconceito por parte dos pais sobre as escolhas da galera, em especial, na decisão entre “o trabalho que dá dinheiro versus o trabalho que sonhamos”.

Este tipo de preconceito, sentido pela nossa galera, se espalha não só para a escolha de profissão, mas também para as demandas da geração, que podem ser minimizadas e o ritmo de trabalho comum às gerações anteriores são banalizados, é o que pontua Danielle Peixoto, de 18 anos.

“Acho que a geração anterior a nossa glamouriza muito o cansaço às vezes, já a nossa geração não tem ‘papas na língua’ na hora de comunicar o que foi bacana ou não no ambiente de trabalho, não medem esforços para não levar trabalho para casa ou não passar do expediente de uma forma abusiva. Mas, creio que seja natural uma geração pegar no pé da outra nesse quesito”, aponta. E Dani tem razão.

O embate de gerações é inevitável e uma sempre irá tentar convencer a outra de que seus costumes são melhores que os da outra. Estabelecer que uma é melhor que a outra é difícil por envolver costumes, épocas, crenças e prioridades diferentes. Por hora, ficamos felizes pelo avanço na questão de tratamento para com os funcionários e com a priorização da saúde mental. Se tem uma coisa que aprendemos com as gerações passadas é que um profissional disposto a crescer precisa de um ambiente saudável, e torcemos que, daqui para frente, os avanços sigam na direção do bem-estar do profissional.

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By valeon