Lucrar é o principal objetivo desses novos donos de clubes no Brasil; não se engane

Por Robson Morelli – Jornal Estadão

Ronaldo deu um recado para os torcedores do Cruzeiro nas redes sociais, parabenizando o time e sua classificação no Estadual de Minas Gerais. “Estamos classificados. Página virada e foco na semifinal agora”, escreveu o Fenômeno dando o tom de como é comandar um clube sob a bandeira da SAF.

Ganhar jogos e valorizar o nome do clube e de sua marca (o distintivo) é o único objetivo dos donos das SAFs. A Sociedade Anônima do Futebol é uma empresa como qualquer outra, com receitas e despesas e em que lucrar e aumentar o seu valor no mercado são seus grandes e principais objetivos.

Nessa engenharia empresarial que toma de assalto o futebol brasileiro como único caminho para tirar associações do buraco (esportivo e financeiro), há apenas um diferencial, o torcedor. Com ele, existe uma paixão infinita e inexplicável que não será levada em consideração. Pode até ser entendida e respeitada neste momento, quando os novos donos das SAFs estão buscando também uma identificação com a centenária torcida dos times que compraram. Mas isso não será uma premissa dos novos empresários do futebol.

Ronaldo vem mostrando a cada partida como vê o Cruzeiro como empresa
Ronaldo vem mostrando a cada partida como vê o Cruzeiro como empresa Foto: Gustavo Aleixo/Cruzeiro

Quem não se lembra das folias de John Textor com a bandeira do Botafogo no Rio?

Ronaldo poderia até pensar diferentemente dado seu histórico no futebol nacional e, sobretudo, no Cruzeiro. Mas muito antes de pendurar as chuteiras, o atacante já era um homem de negócios, uma espécie de Midas com faro apurado para transformar o que toca em ouro. É com esse pensamento que Ronaldo administra o time mineiro. Não se engane, torcedor! Ele e todos os outros SAFs visam o lucro.

Semana passada, vazou a informação de que Ronaldo está revendendo 20% do clube para um parceiro do próprio Cruzeiro. Os valores não foram revelados, mas é certo que Ronaldo comprou na baixa (com o clube na segunda divisão) e agora vende na alta (na primeira divisão e cheio de esperanças).

Negócio é negócio. Que não se iluda o torcedor de qualquer um desses clubes que se transformaram em SAF com as manobras de seus dirigentes. Nesse novo negócio, a paixão é bonita, mas ela não decide nada, nem fará com que os donos dos times deixem de lucrar em prol do melhor rendimento do time em campo.

Elencos fortes vão valorizar o clube. Vitórias e conquistas também. Mas é inegável que a torcida vai ter de entender e se acostumar com a nova forma de gerir o futebol. Vendas de jogadores haverá o tempo todo. A SAF pressupõe esse tipo desprendido de ação. A dúvida, no entanto, é saber se haverá reposição à altura. Mas não faz sentido enfraquecer os times. O lucro e a relevância só chegarão se os times forem fortes e competitivos. Então, até que essa primeira fase da SAF seja concluída, o torcedor terá de se acostumar com as novas estratégias dos presidentes.

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