Tolerância a mil

Por
Alexandre Garcia


Juscelino Filho foi recebido pelo presidente Lula e pelo ministro Alexandre Padilha no Palácio do Planalto.| Foto: Reprodução/Twitter

Juscelino Filho, depois de ter asfaltado uma estrada que dá acesso à sua fazenda, quando era deputado federal, com verba dos nossos impostos; depois de ter posto, segundo o Estadão, seu patrimônio equino não declarado à Justiça Eleitoral em nome de laranjas; e depois de ter, como ministro, usado um jatinho da Força Aérea para passar por Anatel e empresas de telecomunicações e ir a um leilão no interior de São Paulo; depois de tudo isso, está tudo bem com o presidente Lula. Com 65 dias de ministro, ele teve seu primeiro encontro com o presidente da República para absolvê-lo de qualquer culpa.

O presidente Lula aceitou tudo em nome do apoio do partido de Juscelino, o União Brasil, que tem 11 senadores e 59 deputados, sendo a terceira bancada no Congresso Nacional. O líder do União Brasil na Câmara, deputado Elmar Nascimento, disse que o partido está independente do governo. Ora, não dá para acreditar, porque o União Brasil tem dois ministros – além do ministro das Comunicações, a ministra do Turismo –; então, não é independente.

Lula precisa do União Brasil para enterrar a CPI do 8 de janeiro

Lula fez vista grossa para os escândalos de Juscelino Filho, uma porque talvez ele ache mesmo que não há problema nenhum, e duas porque ele precisa dos votos do União Brasil na Câmara e no Senado. Inclusive, foi um deputado do União Brasil, representando o Rio de Janeiro, que retirou sua assinatura junto com um outro, do MDB de Goiás, da CPI para investigar os atos de 8 de janeiro. Não entendo por que o governo não quer apurar, quer que isso continue a ser um mero caso de delegacia de polícia. Mas não é: foi um grande acontecimento político em que turbas de vândalos invadiram as sedes dos três poderes de uma vez só, numa mesma tarde. Foi um acontecimento político noticiado no mundo inteiro; superou a simples invasão do Capitólio, foi como se nos Estados Unidos tivessem invadido ao mesmo tempo a Casa Branca, o Capitólio e a Suprema Corte.


A justiça exige que saibamos tudo sobre o 8 de janeiro
Este não é só um caso de polícia; é um caso político em que é preciso investigar as causas, as raízes, quem financiou, quem transportou, o que houve, que ideias, o que aconteceu, o que motivou, como é que entraram, quem entrou, por que quebraram… pedir informações, convocar as pessoas para explicar os motivos, para que isso não aconteça de novo. E o governo não quer por quê? Temos de ouvir quem devia defender o Congresso, o Supremo, o Palácio do Planalto, quem é responsável pela segurança, como é que a porta abriu sozinha, quem são aquelas pessoas que entraram lá e saíram, onde moram, o que fazem.

E saber também sobre as pessoas que foram presas lá no acampamento, embarcadas em ônibus. Conversei na terça-feira com uma pessoa que estava presa lá no ginásio da Polícia Federal; ela me disse que uma senhora morreu nos braços dela, mas não tem prova disso; dizem que três pessoas teriam morrido. Isso é muito grave, é preciso apurar e desmentir caso não seja verdade, deixar muito claro que ninguém morreu. Então tem de haver, sim, a CPI de deputados e senadores.


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