Livros para quem?  Raphael Montes Por que a proposta de um novo imposto sobre o produto é cruel Fonte VEJA Coluna do Raphael Montes: Por que a proposta de um novo imposto sobre o livro é cruel. Por que a proposta de um novo imposto sobre o produto é cruel Eu tinha 15 anos quando falei à minha mãe que queria ser escritor. Ela me encarou entre a surpresa e a preocupação e disse: “Mas, meu filho, pra viver como escritor no Brasil só o Paulo Coelho!”. A rebeldia juvenil me fez continuar a escrever. Em 2010, aos 20 anos, lancei meu primeiro livro e, desde então, publiquei outros cinco, que foram traduzidos para o exterior e tiveram os direitos de adaptação vendidos ao cinema. Sei que tive (tenho) uma trajetória incomum. Por vezes, sou usado como exemplo de escritor best-seller. Apesar disso, posso garantir: eu não vivo dos direitos autorais dessas obras. Minha mãe estava certa. Talvez só o Paulo Coelho. Faça as contas comigo: um livro custa, em média, 50 reais. Por contrato, o autor recebe 10% do preço de capa, o que dá 5 reais por exemplar. Considerando que os livros de um autor muito popular vendem 10 000 exemplares (número difícil de alcançar), o autor recebe 50 000 reais ao final do período que leva para vendê-los, ou seja, uns dois anos. Dá, em média, 2 000 por mês. Ajuda a pagar as contas? Ajuda. Mas está longe de garantir uma vida luxuosa. Para onde vai o restante do dinheiro?, você me pergunta. O texto é só o primeiro passo. Depois vêm o editor, o revisor, o tradutor, o artista gráfico, o diagramador, a gráfica, o divulgador, o distribuidor e a livraria. Ninguém ganha muito no final das contas. Fazer literatura no Brasil é um trabalho hercúleo, só para apaixonados. Nos últimos anos, a recuperação judicial de duas redes, Saraiva e Cultura, prejudicou o mercado e fez com que editoras, especialmente as pequenas e médias, fechassem ou ficassem no vermelho. “Eu não vivo dos direitos autorais das obras. Minha mãe estava certa. Talvez só o Paulo Coelho” Fiz questão de traçar um panorama porque, acredite, é sobre esse mercado em crise, com perspectivas tenebrosas, que o ministro da Economia, em sua proposta de reforma tributária, decidiu fazer incidir um imposto de 12%. Sim, a ideia é que o governo receba por livro mais que o próprio autor. A taxação também impactará no preço final. Questionado sobre a decisão, Guedes disse que deixar as obras mais caras não é um problema, já que o livro é um produto consumido pela classe alta. Mais uma vez, ele evidencia seu desconhecimento em relação aos livros e ao público leitor.  

By Moysés