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Bruna Frascolla – Gazeta do Povo

São Paulo – Usuários de drogas saem da Praça Princesa Isabel e voltam a ficar entre a Avenida Cleveland e rua Helvétia (Rovena rosa/Agência Brasil)

Guardas municipais diante de usuários de drogas na região da cracolândia, em São Paulo.| Foto: Rovena Rosa / Agência Brasil / Arquivo

A defesa de certas corporações, tal como a dos jornalistas, dos professores e dos advogados, por vezes se confunde com a defesa da própria democracia. Há a confusão lícita e a ilícita. Um exemplo: se a corporação dos professores for obrigada a ensinar que não se nasce homem nem mulher, temos aí um ataque que é dirigido ao mesmo tempo contra a democracia e contra a corporação dos professores. Afinal, existe um grau de liberdade de consciência necessário aos professores para que possam trabalhar. Não cabe a políticos ou sindicalistas pelegos decidir o que é  a verdade. Como a democracia precisa de liberdade para buscar a verdade, também o conjunto da sociedade seria atacado por uma proibição desse gênero. Do mesmo jeito, se um governo disser à corporação dos jornalistas que tudo o que ela publicar está sujeito a censura prévia, tem-se um concomitante ataque à imprensa e à democracia.

A confusão ilícita ocorre quando uma corporação, sabendo que o trabalho da sua profissão é essencial à democracia, trata qualquer ataque a qualquer indivíduo ou entidade como um ataque à democracia. Quando se pede que alguém explique de onde vem o dinheiro que banca a defesa de Adélio Bispo, a OAB trata isso como um ataque à democracia. Ora, qualquer um com bom-senso sabe que, em esquemas complexos, advogados corruptos servem para lavar dinheiro. Não é um ataque à democracia quebrar o sigilo de certos advogados para elucidar crimes. A contrário: ataque à democracia é deixar inexplicado o atentado à vida de um candidato à presidência que ora ocupa o Palácio do Planalto. Quem deu o álibi a Adélio Bispo na Câmara? Quem paga o seu advogado? Uma democracia deveria responder a isto.

No caso da imprensa, vimos que uma série de sites pseudonoticiosos pró-PT eram abastecidos com o dinheiro da Petrobrás, roubado pelo próprio PT. Tudo o que se diz do gabinete do ódio pode ser dito, com provas, do gabinete de Franklin Martins nos governos petistas: eram pagos pelo governo (com dinheiro roubado do povo) para dissimular “fake news” (chamadas à época simplesmente de mentiras, boatos ou meias-verdades). Seria portanto favorável à democracia a quebra do sigilo desses veículos. Não seria um ataque à liberdade de imprensa, haja vista que o motivo da quebra não era o conteúdo dos textos nem a orientação ideológica, senão o financiamento espúrio.

Novas formas de censura
Como temos visto, nem sempre os ataques à imprensa vêm do poder Executivo, ou mesmo do governo. O caso do Sleeping Giants, por exemplo: eles dizem que o seu propósito é combater “fake news” e “discurso de ódio” por serem “fake news” e “discurso de ódio”, em vez de assumirem que têm preferências ideológicas e perseguem dissidentes. Seu modus operandi consiste em pedir algumas cabeças e, caso elas não sejam entregues, usar o Twitter e aplicativos de mensagem para constranger patrocinadores. As postagens do Twitter são públicas. As dos aplicativos de mensagem são de supostos ex-clientes que atendem à convocação do Twitter e dizem à empresa que vão boicotá-las por causa do patrocínio. Para mim é óbvio que é um monte de desocupado sem emprego sério que ganha umas mortadelas para fazer isso. Mas os empresários deixam na mão de departamentos de marketing, que são lotados de progressistas, e cedem.

Esta Gazeta do Povo já foi alvo dos Sleeping Giants por se recusar a entregar a cabeça de Rodrigo Constantino. Pegou mal pra eles. Depois viram Sikêra Júnior, que é bem povão, como alvo ideal. Ninguém liga pra povão, então dá pra bater. Felizmente, Sikêra e seu assessor Wallacy (vulgo Michele Obama) tramaram um ardil para pegar o Sleeping Giants: inventaram as Óticas Tambaqui, criaram uma conta nas redes sociais para ela e deram um número manauara com o WhatsApp. Em seguida, as “Óticas Tambaqui” anunciaram no programa de Sikêra. Resultado: um monte de lacrador achacou a ótica que não existia, dizendo que nem eles, nem a família jamais poriam os pés nas Óticas Tambaqui. Prova-se portanto que a força de boicote do Sleeping Giants é fake. Um fake e um engodo capaz de, na prática, censurar jornais.

O outro ataque à imprensa que temos visto é o daquela CPI em que Renan Calheiros posa de herói anticorrupção. Mais rastaquera, nem finge que há imparcialidade ideológica: diz que Bolsonaro é genocida, que mata todo mundo com fake news, de maneira que uma meia dúzia de veículos que não está contra eles é infame e deve ter o sigilo quebrado. Desta vez esta Gazeta do Povo passou incólume. A Jovem Pan foi alvejada, mas deram pra trás.

Se quebrarem o sigilo e encontrarem cidadãos e empresas, há alguma dúvida de que o Sleeping Giants vai atrás dos patrocinadores?

Até preventivamente, o ardil de Sikêra Jr. deveria ser espalhado aos quatro ventos. Ô Sikêra, deixe Polzonoff lhe entrevistar!

Descobertas possíveis
Mas toda essa conversa de quebrar sigilo me traz à mente a descoberta mais podre que poderia haver por detrás de qualquer veículo de imprensa, ONG, partido político ou braço da Igreja: dinheiro de tráfico.

Em junho deste anos, a Folha de São Paulo fez uma matéria muito interessante sobre os lucros do PCC. A Inteligência da Polícia Civil de São Paulo descobriu que o PCC lucra mais com a venda de crack na Cracolândia do que com a venda de cocaína em Higienópolis: “o quilo do crack está sendo comercializado no varejo pelos criminosos por até R$ 45 mil. Em comparação, traficantes conseguem até R$ 30 mil com o quilo de cocaína em regiões nobres de São Paulo, como Higienópolis, Pinheiros ou Itaim Bibi –mesmo quando a cocaína tem alto grau de pureza, segundo especialistas. Espécie de sobra da produção da cocaína, o crack por muito tempo foi visto com certo temor pelo próprio PCC. Os chefes da facção proibiram por anos o acesso desse tipo de droga ao sistema penitenciário por causa de seu alto poder destrutivo. Embora seja subproduto da cocaína, seu valor elevado na cracolândia decorre de dois fatores: a falta de concorrência (só o PCC pode vender ali) e a sensação de segurança que os usuários sentem ao comprar e consumir entorpecentes no local sem serem incomodados pela polícia. ‘Por mais incrível que pareça, a pessoa tem a segurança de consumir na cracolândia. Olha que absurdo, que contrassenso. Ali, eles têm a polícia em volta. A GCM [Guarda Civil Metropolitana] e a Polícia Militar. Além de comida, serviço social. Eles têm ali todo um aparato público em que a pessoa tem a segurança de consumir muito maior do que em um biqueira’, disse o delegado Roberto Monteiro, delegado seccional da região central.”

Paralelo a isso, ganhou os noticiários mundo-cão (eu vi em Sikêra) o caso da Princesinha da Cracolândia. Uma moça bem bonita, de classe média, de apenas 19 anos, foi presa por envolvimento com o tráfico, e somos informados de que a criatura ganhava meio milhão de reais por mês segundo a polícia vendendo crack na cracolândia.

Então vocês têm uma ideia das dimensões do dinheiro do tráfico, bem como dos interesses que há na manutenção tanto das leis pró-bandido, quanto da crença de que tráfico surge por geração espontânea entre os pobres. Com tanto dinheiro, seria muito estranho que o tráfico não comprasse jornalistas, emissoras, partidos e religiosos. É apenas de lastimar que o MP não foque em descobrir indícios de tais coisas para, aí sim, pedir quebra de sigilo de maus jornalistas e maus veículos de imprensa, que trabalham contra a democracia.


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By valeon

2 thoughts on “Nem sempre o ataque contra a imprensa vem do governo”
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