Editorial
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Gazeta do Povo

Setor de alojamento e alimentação registou aumento de quase 10% no número de empregados no trimestre encerrado em novembro de 2021.| Foto: Bigstock

Enquanto o país espera os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de dezembro de 2021, e que também mostrarão como foi o desempenho do mercado de trabalho formal no ano passado – a previsão para dezembro é de fechamento de vagas, o que é tradicional no último mês do ano, com saldo acumulado de 2021 na casa dos 2,8 milhões de novos postos de trabalho –, o IBGE divulgou novos números do desemprego e que, felizmente, trazem uma nova queda no indicador. No trimestre móvel formado por setembro, outubro e novembro de 2021, a taxa de desemprego ficou em 11,6%. A última vez que o desemprego havia ficado abaixo de 12% foi no trimestre móvel encerrado em fevereiro de 2020, portanto antes que a pandemia de Covid devastasse os negócios.

Os números da Pnad Contínua refletem uma recuperação constante do mercado de trabalho: esta é a sexta queda seguida de pelo menos meio ponto porcentual na taxa de desemprego, que era de 14,4% um ano atrás, e de 13,1% no trimestre anterior (junho/julho/agosto de 2021). Em números absolutos, o país ainda tem 12,4 milhões de desempregados, contra 14,5 milhões há um ano e 13,9 milhões no trimestre anterior. Outro dado positivo é a queda no número de desalentados, aqueles que nem chegam a buscar um trabalho: este grupo já chegou a beirar os 6 milhões de brasileiros, e agora é de 4,9 milhões. Um número ainda muito expressivo, mas que pode seguir caindo se o mercado de trabalho demonstrar mais vitalidade nos próximos meses e seguir contratando.

O caminho até a superação do grande mal socioeconômico do desemprego é longo e árduo. Há populações especialmente vulneráveis e as perspectivas de crescimento da economia em 2022 são pouco animadoras

Destrinchando os números por tipo e setor de ocupação, ainda é possível observar algumas tendências, algumas animadoras e outras preocupantes. O setor de alojamento e alimentação, um dos mais atingidos pelas medidas restritivas adotadas para conter a pandemia, aumentou o número de empregados em 10% no trimestre móvel encerrado em novembro, em comparação com o período de junho a agosto, demonstrando que vinha em recuperação – os dados, é preciso lembrar, ainda não contemplam o período da nova onda da pandemia, causada pela variante ômicron, que trouxe consigo novas rodadas de restrições, ainda que não tão severas quanto as anteriores. A taxa de informalidade também ficou estável, em 40,6%: na comparação com o trimestre anterior, o número de empregados no setor privado sem carteira assinada ainda subiu mais que o daqueles formalmente contratados: 7,4% contra 4%, mas, para o IBGE, “a participação do trabalho formal no setor privado vem aumentando e contribuindo também para a recuperação da ocupação no país”, segundo nota assinada pela coordenadora de Trabalho e Rendimento do órgão, Adriana Beringuy.

Um aspecto interessante a ressaltar é o fato de este ser o primeiro trimestre completo em que não esteve em vigor o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm), que permitia acordos de redução proporcional de jornada e salário, ou suspensão temporária de contratos de trabalho, como forma de evitar demissões. Setembro, outubro e novembro foram os primeiros meses em que não foi mais possível celebrar novos acordos, mas nos quais vários trabalhadores já perderam a estabilidade prevista em acordos assinados anteriormente; este movimento deve continuar nos próximos meses até que termine a estabilidade garantida nos 158 mil acordos feitos em agosto de 2021. Se o mercado de trabalho seguir evoluindo sem o amparo do BEm, estaremos diante de um ótimo sinal de resiliência.


Por outro lado, motivo de contínua preocupação é a nova queda no rendimento médio do trabalhador. Nos últimos 14 meses, apenas em um deles houve aumento neste indicador, que agora é de R$ 2.444, ou R$ 32 a menos que no período de agosto a outubro. Como na divulgação dos dados feita um mês atrás, o IBGE atribui a redução à inflação e ao fato de as novas vagas oferecerem menor remuneração.

Como já foi dito, será natural que em dezembro haja um recuo no nível de emprego, seja o medido pelo Caged, seja o da Pnad Contínua; e pode, ainda, haver um efeito negativo da nova onda de Covid-19 neste início de 2022, ainda que a resposta de estados e municípios não tenha sido tão drástica quanto o “fecha tudo” de 2020 e 2021. Mesmo superados estes obstáculos, o caminho até a superação deste grande mal socioeconômico é longo e árduo. Há populações especialmente vulneráveis – o desemprego entre jovens de 18 a 24 anos é o dobro da média nacional; o governo federal acaba de lançar um programa de qualificação que tem essa faixa etária como um de seus públicos-alvo. As perspectivas de crescimento da economia em 2022 são pouco animadoras. Mesmo que o desemprego não volte a subir, ele ainda está em patamares inaceitáveis, e uma estagnação em 2022 significaria prolongar o sofrimento de muitos milhões de brasileiros e suas famílias.


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